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Protagonismo de mulheres negras e indígenas é tema do Mês da Mulher AASP

Palestrantes falam sobre ancestralidade, dificuldades e conquistas na ocupação de espaços de poder.

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Dando continuidade à programação do Mês da Mulher AASP, no dia 15/3 (quarta-feira) a Associação dos Advogados de São Paulo recebeu as advogadas Rosana Rufino e Adriana Inory Kanamari para falar sobre “Ancestralidade: protagonismo negro e indígena na sociedade jurídica”. O painel contou com a moderação do Conselheiro da Associação Rogério Tucci.

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Inory – como prefere ser chamada – é natural do município de Itamarati-AM e foi a primeira mulher da etnia Kanamari a se graduar em Direito e exercer a advocacia. Ela iniciou sua exposição alertando que o termo “índio” é pejorativo e não deve ser utilizado para se referir às pessoas indígenas. Essa “foi uma palavra que os portugueses usaram quando aqui chegaram” e também é utilizada na Colômbia e no Estado do Amazonas para ofender as pessoas, já que é empregada com o significado de “pessoa sem modos e sem cultura e, isso, definitivamente, não nos representa”. A advogada também adverte que o cocar usado pelos povos originários “não é uma fantasia, é uma identidade cultural dos povos indígenas” e deve ser respeitado.

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Compartilhando sua história e experiência de vida com as pessoas ouvintes, Inory expôs o preconceito que sofre diariamente. “Por mais que eu seja uma mulher indígena advogada e esteja como Presidente da Comissão de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da OAB do Amazonas, isso não evita que eu sofra ataques, inclusive de colegas”, declara. A advogada relata, ainda, a conivência de outros profissionais do Direito com falas racistas e preconceituosas proferidas no meio branco e elitizado e – até mesmo – ausência de punição para esse tipo de ofensa.

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Para que as pessoas conheçam as histórias dos povos originários e o preconceito seja minimizado, Inory considera ser imprescindível ocupar espaços de poder e de formação de pensamento crítico, como universidades. “Nós estamos aqui antes da chegada dos portugueses e nós seguimos sendo desconhecidos”, afirma. Apesar de necessário, “estar à frente desse trabalho é desafiador”, desabafa a advogada, pois, além das “invasões, assassinatos e omissões contra nós, povos indígenas, o que mais mata é o preconceito.

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Na sequência, Rosana – Advogada e Pesquisadora em políticas públicas e diversidade e inclusão – destacou o papel de resistência de juristas negras na ocupação de espaços de poder. “Eu gostaria de falar sobre a luta histórica de Esperança Garcia, reconhecida pelo Conselho Federal da OAB como a primeira advogada do Brasil”. A pesquisadora prosseguiu ressaltando a relevância dessas precursoras para que mais mulheres negras possam ocupar espaços que antes eram reservados somente à branquitude. “Se hoje nós somos muitas, ainda somos poucas”, adverte.

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Rosana ainda relata o fato de mulheres negras serem constantemente questionadas por sua aparência nos espaços de poder. Para a pesquisadora, uma explicação para isso se dá pelo fato de que, “no imaginário social, as mulheres negras sempre estão em condição de servidão”. Como forma de modificar esse pensamento, a advogada defende a elaboração e implementação de políticas de inclusão para que mais mulheres negras acessem esses espaços, a exemplo do manifesto elaborado por juristas negras e assinado por coletivos de diversos Estados da Federação. Nesse documento – entregue ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – foram formalizadas pautas para o combate ao racismo estrutural na advocacia, defendendo, também, a indicação de mulheres negras para ocupar uma da cadeiras do Supremo Tribunal Federal. “A gente tem que replicar essas políticas públicas em todos os espaços. Quanto mais instituições replicarem esse modelo, mais estaremos impactando esse mercado”, afirma.

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A programação do Mês da Mulher AASP continua ao longo das próximas semanas, com painéis sobre protagonismo feminino nos esportes eletrônicos (ESports), combate ao machismo organizacional, masculinização da inteligência artificial, entre outros.

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Para conferir todos os painéis que ainda virão e garantir sua inscrição, clique aqui.

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