AASP logo
AASP logo

Notícias

Artigo: Eles, os professores, vistos por nós, os advogados

Publicado originalmente na edição nº 3048 do Boletim AASP – 2ª quinzena de outubro de 2017.

Por Flávio Luiz Yarshell,

Se há boa dose de verdade na assertiva “não há justiça sem advogado”, também se pode dizer que sem professores não há advogados – ao menos não aqueles que todos desejamos ter. Não se trata de estabelecer disputa sobre quem desempenha papel mais importante na sociedade. Cuida-se simplesmente de constatar que a educação – em seus diferentes níveis – está à base do desenvolvimento humano e social; e que fora desses domínios não há salvação.

Certamente que o ato de ensinar, por si só, não é uma virtude. O mérito depende em parte do conteúdo que se transmite, mas principalmente do método e da forma pelos quais se estabelece a relação entre alunos e professores. Por isso também há uma razoável parcela de acerto na ideia de que o bom professor defende seus alunos da própria influência. A depender do ponto de vista, há uma tênue distinção entre formar e deformar.

O ensino é uma forma de comunicação entre pessoas. A obsessão de todo professor – e se ele não a tem, ainda que de forma secreta, provavelmente deveria rever sua própria vocação – é a de ser entendido por seus alunos. Não se trata – ao menos não deveria se tratar – de convencer, mas de se fazer compreendido. Poucas coisas são tão frustrantes para um professor quanto a indiferença ou o distanciamento de seus alunos; que, então, só merecem esse qualificativo sob ângulo puramente formal. Por isso – já ouvi alguém dizer com acerto – professores são seres carentes…

Apesar de sua indisputável importância, não é de hoje que professores vivem dias difíceis entre nós, especialmente no âmbito do ensino público – que um dia já foi, em diferentes níveis e por incrível que pareça, altamente dotado e reconhecido. Apenas para ilustrar como uma experiência pessoal, lembro-me, no início da década de 1970, que morávamos na mesma rua em que morava o professor de latim da escola pública que meus irmãos frequentavam (nosso sustento vinha da advocacia liberal que meu pai exercia). Eu mesmo estudei em escola pública até o final do (então) ginásio e, sem qualquer dificuldade para enfrentar três anos de escola privada que se seguiram, tive êxito em voltar ao estudo público, agora na universidade – para o que não tenho dúvida de que a base que me fora proporcionada foi decisiva.

Não de hoje, contudo, a situação da média dos professores está longe de ser exatamente glamourosa: a precariedade de meios materiais, a falta de apoio e de reconhecimento, os desafios que as velozes mudanças culturais impõem, a interferência de outras referências de condutas, tudo isso, enfim, aponta para um quadro preocupante e por vezes sombrio, em que eventualmente nem a integridade física do professor está a salvo.

Definitivamente, há algo de errado com uma sociedade que não consegue dar ao ensino a prioridade que ele precisa ter, como talvez a mais importante ferramenta para transformação e progresso, pessoal e coletivo. Pobre a sociedade que não sabe reconhecer, como deveria, a importância que têm seus professores.

A AASP, para além de prestar esta homenagem e de consignar este elogio aos professores (daí a paráfrase contida no título, que se reporta à célebre obra de Piero Calamandrei, também ele um mestre de todos nós), tem procurado, ao longo dos anos, dar sua contribuição para o ensino jurídico e para o aperfeiçoamento dos profissionais do Direito. Seu Departamento Cultural, que desde sempre foi atuante, teve suas atividades cada vez mais incrementadas a partir da mudança de sede, que lhe proporcionou estrutura física adequada para ampliar a oferta de cursos e de eventos. De lá para cá, mercê do emprego de recursos tecnológicos e da colaboração de profissionais competentes, a contribuição da entidade para o ensino, nos limites de sua atuação, pode ser considerada muito relevante. Que esse caminho virtuoso seja cada vez mais alargado.

Flávio Luiz Yarshell é advogado e ex-conselheiro da AASP

 O artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a posição da entidade. 

Leia também: