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Como a educação jurídica está se preparando?

Por Tainã Miranda

 

Há pelo menos dez anos trabalho ao lado de advogados, desenvolvendo sistemas e, principalmente, entendendo como eles estão interagindo com a tecnologia ao longo desses anos. Algumas vezes coloquei a “mão na massa” e percebi o “drama” que significa isso para eles, tudo isso antes das modernas ferramentas de captura de dados dos tribunais, processo digital, etc…

Acredito que, para o advogado, a tecnologia era acessório e sempre foi oferecida desta forma, isto é, usada apenas para substituir outras ferramentas tradicionais. Um exemplo: ao invés de escrever a petição na máquina de escrever, o advogado passou a usar o Word. Mas, na prática, usar tecnologia não oferecia um ganho real pelo uso dela e sim só um jeito diferente de fazer as mesmas coisas e às vezes pior e mais difícil do que da forma analógica.

Além disso, se tem um tipo de pessoa desconfiada, este tipo é o advogado. É possível entender, afinal o trabalho do advogado é prever e resolver problemas, se manter na lei e manter seus clientes dentro da lei. Vamos combinar que fazer faculdade de Direito deixa qualquer pessoa com a “antena de preocupação” sempre ligada e qualquer coisa que saia do tradicional, da forma que foi sempre feita, causa desconforto e medo!

Sabe como é: “vou cadastrar neste sistema aqui mas vou guardar o papel, vai queeeeeee…”.

Acontece que a sociedade mudou, a geração que nasceu com a internet já é adulta. Eu, por exemplo, nasci no começo dos anos 1990, quando a internet começou a se popularizar no Brasil.

Eu fiz parte da primeira geração de adolescentes que “passou vergonha” em escala mundial com nossos Fotologs. Para mim, é mais fácil entender e lidar com tecnologia do que a geração anterior, a cada nova geração isso vai se tornando ainda mais fácil até chegar ao nível do imperceptível: tenho certeza de que todos já ficaram chocados com as crianças muito novas usando o celular melhor que nós.

Temos novos hábitos, novos gostos, novos produtos e serviços, novas profissões, e, consequentemente, novos problemas para resolver, novas questões de ética para serem discutidas, novas perspectivas para analisar. Como o Direito está se preparando para isso? Como estamos educando os advogados que vão lidar com essas questões?

No começo do ano, o LinkedIn divulgou as habilidades mais requisitadas pelos empregadores em 2019, tanto habilidades práticas e objetivas, como, por exemplo, gestão de pessoas e raciocínio analítico, quanto habilidades comportamentais e sociais, como criatividade e colaboração.

Não é por acaso que começou a borbulhar o mercado de educação complementar para advogados, cursos focados em Direito de startup, gestão para advogados, criatividade jurídica e outras habilidades complementares e que não são aplicadas em sala de aula como parte da educação de base nas faculdades de Direito.

Analisando as grades de graduação em Direito, como a da USP por exemplo, são praticadas 2.160 horas de aulas obrigatórias e, dentro dessas horas, apenas 30 delas são da matéria chamada Noções de Contabilidade Empresarial.

Isto é, o advogado sai da graduação sem saber como gerir uma empresa, como fazer a gestão financeira de um negócio, como gerenciar uma equipe. Habilidades estas que compreendem boa parte do relatório que o LinkedIn divulgou.

Então pergunto de novo: como a educação jurídica está se preparando para a sociedade que já chegou? Quais são as novas competências que todos os operadores do Direito precisam ter? Como as faculdades vão se preparar para que em 2020 não continuem entregando formandos que não dialogam com a sociedade em que vivem? E como quem está atuante não ficará para trás?

Eu acredito que, quanto mais a educação jurídica caminhar ao lado das tendências de todos os demais mercados, mais vamos poder acompanhar a evolução tecnológica no Direito, pois cada vez mais o advogado vai perceber e reconhecer o valor da tecnologia no dia a dia, deixando de fazer dela uma ferramenta, mas tornando ela parceira de trabalho, desempenhando atividades que podem ser replicáveis, gerando economia de tempo para o advogado poder se dedicar às novas habilidades que precisa adquirir.

Eu também acredito que eu e meus colegas de profissão, que estudamos e vivemos de tecnologia, precisamos tornar acessível o que falamos e precisamos colaborar.

No próprio relatório do LinkedIn que citei, “colaboração” é uma das habilidades requisitadas e poder minimamente entender o que cada um faz na prática cria empatia. No fundo estamos todos fazendo a mesma coisa: escrevendo coisas na frente de uma tela de computador! Ao criar empatia, podemos compartilhar conhecimento e soluções que possam ajudar a todos.

Então fico pensando: quais serão as novas soluções, serviços e produtos que esses profissionais que estão se preparando para o novo mercado vão criar em conjunto?

  • Tainã Miranda é Co-Founder e COO da Legalboards.

Fonte: Núcleo de Comunicação AASP

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