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Advogados pela paz

No Dia Internacional da Não Violência – aniversário de nascimento do advogado e líder pacifista Mahatma Gandhi – compartilhamos um artigo sobre a paz elaborado pelo conselheiro da AASP, André Garcia. Boa leitura!

“Mediar é Divino” (programa do TJGO, TJDF, TJPR e TJMS para capacitação de líderes católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, e também de outras religiões como mediadores e conciliadores); Cultura de Paz nos tribunais; Justiça Restaurativa; constelação familiar e terapias alternativas; juízes que propõem “1 minuto de silêncio” antes das audiências; servidores do TJSP que, juntos, meditam 10 minutos antes do início das atividades – novidades que representam uma quebra de paradigma, distanciando-se da imagem que se tem cristalizada do Poder Judiciário, em que deve preponderar apenas o temor reverencial. A ordem agora é humanizar. Surge um estranhamento inicial, mas parcerias com instituições religiosas não afetam a imparcialidade do Estado. É preciso reconhecer que nossa sociedade vive um momento de intensas mudanças; deve, pois, o Poder Judiciário adaptar-se a essa transformação.

Não é preciso ser adepto de alguma religião para que se perceba que, além dos dogmas e liturgias, existe na essência das religiões a busca por valores humanos que a todos interessa: paz, amor, honestidade, gentileza, dedicação etc. são valores que não devem estar afastados das instituições. O respeito às crenças exige também empatia para que se compreendam as motivações de cada qual.

O Direito deve ser, antes de tudo, um instrumento da paz. Concebido justamente para evitar e solucionar conflitos, a pacificação social é a primeira promessa do Direito. Como esse ideal não é alcançado espontaneamente, o cidadão busca o Judiciário, que há muito tempo tem sido fonte de frustrações, sobretudo pela demora; a imagem dos advogados, por sua vez, também está desgastada (deveriam ser vistos como aliados do cidadão; o advogado, afinal, é quem lhe presta suporte nos momentos de necessidade).

Nesse contexto, é preciso refletir se o nosso modo de advogar está alinhado com essa profunda transformação social. Até que ponto os advogados também contribuem para esse ciclo vicioso? Talvez convenha indagar: os mais de 1 milhão de advogados brasileiros estão mesmo empenhados em compreender as reais causas dos conflitos, atuando de maneira empática, atentos às necessidades humanas? Cabe a cada um, em exame de consciência, compreender onde se encontra e qual a contribuição, positiva ou negativa, que dá a esse quadro geral. Essa reflexão, sem dúvida, vale para todos os operadores do Direito.

A propósito, certa vez, um importante líder espiritual foi procurado por uma mãe desesperada com a doença do seu filho: após dias de difícil locomoção, conseguiram, a mulher e o filho, um rápido encontro. Foi quando a mãe relatou que seu filho tinha diabetes e que ela não conseguia fazer com que ele parasse de comer açúcar. O líder refletiu um pouco e apenas disse: “Voltem em 30 dias”. Passados os 30 dias, e enfrentados os obstáculos do caminho, retornaram. O líder, então, olhou fixamente para a criança e, com firmeza, disse: “Menino, pare já de comer açúcar! Isso é um veneno, faz mal para você! Você quer ficar doente, quer sofrer, quer morrer? Precisa parar agora mesmo!”. Surpreendida, a mãe perguntou: “Eu agradeço, acho que o susto ficará na memória dele e irá ajudar. Mas preciso saber: por que não disse isso no primeiro encontro?”. O líder respondeu: “Porque há 30 dias eu também comia açúcar…”.

Esse líder era um advogado; tornou-se célebre por seus valores humanos, que influenciaram e ajudaram a emancipar uma nação. Em 2018, completam-se 70 anos da morte de Mahatma Gandhi, mas seus ideais de não violência, no entanto, continuam ainda vivos, convidando todos a primeiro serem a transformação que gostariam de ver no mundo.

André Almeida Garcia, conselheiro da AASP

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